Campanha da Fraternidade – 2020

25/02/2020

Campanha da Fraternidade 2020

Tema: Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso

Lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (cf. Lc 10,33-34)

APRESENTAÇÃO

Na Campanha da Fraternidade (CF) 2020, somos convidados a olhar com mais atenção para a vida. Constata-se que a vida das pessoas chegou a um ponto que esbarra em uma série de angustiantes indagações.

  1. O que aconteceu conosco?
  2. Por que vemos crescer tantas formas de violência, agressividade e destruição?
  3. Perdemos, de fato, o valor da fraternidade?

Em meio a tantas questões, a CF 2020 convoca à reflexão sobre o significado mais profundo da vida e a encontrar caminhos para que esse sentido seja fortalecido ou reencontrado. É por isso que a CF 2020 proclama: a vida é Dom e Compromisso! Seu sentido consiste em ver, solidarizar-se e cuidar. Significa não passar cego às dores das pessoas.

Diante de tanta indiferença se torna urgente testemunhar e estimular a solidariedade (Mateus 25,45). Não temamos se nos sentirmos pequenos diante dos problemas. Lembremo-nos de Santa Dulce dos Pobres, mulher frágil no corpo, mas uma fortaleza peregrinante pelas terras de São Salvador da Bahia de todos os Santos. Santa Dulce dos Pobres é testemunho irrefutável de que a vida é dom e compromisso. É Santa Dulce dos Pobres, que intercede por nós no céu.

BOM SAMARITANO:

COMPAIXÃO E CUIDADO COM A VIDA

A CF 2020 toma como referência a Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 25-37). A Parábola do Bom Samaritano é composta por personagens anônimos. O Sacerdote e o Levita, desviam-se do homem ferido, pois não tinham tempo para ele. O Samaritano aproxima-se da vítima dos salteadores e, movido pela compaixão, gasta seu tempo, ficando com ele à noite na hospedaria. No dia seguinte paga as despesas da sua estadia e promete retribuir ao dono da hospedaria tudo o que por ventura gastasse a mais para cuidar daquele que sofreu o assalto.

A postura inesperada do Samaritano contém o centro do ensinamento de Jesus: o próximo não é apenas alguém com quem possuímos vínculos, mas todo aquele de quem nos aproximamos. Não é a Lei, vínculo sanguíneo ou ligação afetiva que estabelecem as prioridades, mas a compaixão, que impulsiona a fazer pelo outro aquilo que nos é possível, rompendo com toda indiferença. A lei é esta: todos devem ser amados, sem distinção.

Ser capaz de sentir compaixão é a chave da obediência à vontade de Deus, que ama toda a criação: Servir! Ver! Sentir, ter compaixão e cuidar é o autêntico Programa Quaresmal.

Quaresma é tempo de abertura ao mistério da dor, morte e a cruz do Crucificado, Vencedor da Morte. A Igreja recorda que esse caminho do calvário e vitória de Cristo, exige de nós jejum, oração e a esmola. No jejum somos conectados à dor dos que tanto sofrem pela falta de vida digna. A oração, diálogo de amor e amizade, é aproximação que nos possibilita sermos tocados pelo amor e ternura de Deus. A esmola é a partilha de vida, cuidado amoroso que nasce da liberdade da renúncia para a entrega amorosa. Jesus é o verdadeiro bom Samaritano que se aproxima dos homens e das mulheres que sofrem e, por compaixão, lhes restitui a dignidade perdida. A entrega de Jesus na cruz é apenas o culminar desse estilo que marcou toda a sua vida.

1ª PARTE  “VIU”

VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE (LUCAS 10,33-34)

Na Parábola do Bom Samaritano, Jesus apresenta duas formas de olhar: uma que é indiferente: vê, mas passa adiante (sacerdote e levita); e outra que vê, permanece, envolve e se compromete (samaritano). Somente contemplando o mundo com os olhos de Deus (o olhar samaritano), é possível perceber e acolher o grito que emerge das várias faces da pobreza e da agonia da criação (DGAE 2019/2023 n. 102).

O olhar que vê e segue representa toda indiferença e desprezo pela vida do outro. Não se engane: mesmo os que estão próximos ou atuantes na Igreja, muitas vezes, podem ter o olhar maldoso, viciado e cansado. É preciso sempre exercitar a mesma perspectiva do olhar virtuoso que Cristo nos ensina. Muitos santos procuraram viver em suas vidas o olhar samaritano do nosso Salvador, que os levou a superar as dores, as injustiças e as violações de direitos, convencidos de que Deus criou o infinito para a vida ser sempre mais.

O OLHAR DA INDIFERENÇA GERA AMEAÇAS À VIDA

O aborto é realidade que ameaça a vida desde o ventre materno. Da mesma forma, o desprezo pela vida se manifesta por meio de projetos que querem regularizar a eutanásia e o suicídio assistido, garantindo o que chamam de direito de antecipação da morte. Também temos que citar a realidade de milhares de crianças órfãs que perderam suas famílias, sobretudo em tempos de violência e migração forçada.

Outros cenários que agridem a vida humana no Brasil são estes: 1- Desemprego: No 1º trimestre de 2019, a taxa de desemprego atingiu 12,7% da população. (840 mil novos empregos formais em 2019) 2- Desolação: Cresce igualmente o número de pessoas desoladas, que desistiram de procurar emprego. 3- Miséria: O número de pessoas vivendo a miséria extrema já somam 13,5 milhões. (Com falsas promessas de governos passados) 4- Ansiedade: Por todos estes problemas, o Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina. 5 – Suicídio: Em 2016, houve 11.433 mortes por suicídio, ou seja, 31 casos de suicídio por dia. Os jovens, entre 15 e 29 anos, estão entre as maiores vítimas do suicídio, a 4ª maior causa de morte nessa faixa etária.  6 – Violência no Trânsito: Nos primeiros seis meses de 2018, foram 19.398 mortes e 20 mil casos de invalidez permanente no país. 53,7% dos acidentes são causados pela negligência ou imprudência dos motoristas. 7 – Feminicídio: Em 2017, a cada dez feminicídios, registrados em 23 países, quatro ocorreram no Brasil. Naquele ano 2.795 mulheres foram assassinadas, das quais, 1.133 no Brasil. 8- Disputa pela água: Perto de um milhão de pessoas foram envolvidas nos conflitos pela água. Os ribeirinhos e pescadores foram vítimas preferenciais. As mineradoras são responsáveis por metade pelas disputas pela água. Em 2017, o conflito pela água provocou 71 assassinatos, sendo 31 em cinco massacres.

OUTRAS AMEAÇAS À VIDA

Uma série de ameaças à vida está batendo em nossas portas por intermédio dos meios de comunicação e das redes sociais, confundindo os cristãos, iludindo as famílias, atraindo jovens para uma mentalidade permissiva disfarçada de progresso científico. Na verdade, são propostas que excluem as pessoas e descartam vidas inocentes. Essas ameaças têm nome: aborto, eutanásia, suicídio assistido, eugenia (seleção de seres humanos pelas suas qualidades genéticas), tráfico de drogas, de pessoas e de órgãos, entre outros.

O individualismo marca de tal maneira as relações, que a vida corre o risco de ser vista não mais como Dom e Compromisso, mas como um peso ou como algo de que a pessoa possa dispor a seu bel prazer. O ser humano, e sua capacidade de ser “feliz” passam, nesta perspectiva, a ser avaliado pelo que produz e pelo que consome. Tudo isto indica a banalização da vida e a relativização da existência, o enfraquecimento do conceito de pessoa e até a justificativa legal de modalidades de homicídios e extermínios humanos, sob a alegação de conquistas de direitos.

O OLHAR QUE DESTRÓI A NATUREZA

Nos últimos anos, vem crescendo a consciência de que, articulada com o desrespeito ao ser humano, encontra-se a agressão à natureza. Precisamos ter consciência de que nós, seres humanos, estamos incluídos na natureza e somos parte dela. O mal feito ao ser humano interfere negativamente no meio ambiente. O mal feito ao meio ambiente interfere afeta o ser humano. Portanto, não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise em dois lados de uma mesma moeda: sócio / ambiental.

O domínio da economia que não olha para as pessoas, mas para outros interesses, é o motor da desigualdade social que agride a vida, não só do ser humano, mas de todo o planeta. Um alerta: Olhando somente o lucro e não para a saúde das pessoas, a agricultura no Brasil é campeã mundial no uso de pesticidas, (ver dados oficiais no Ministério da Agricultura) alternando a posição, dependendo da ocasião, apenas com os Estados Unidos. Como exemplo, tomemos o feijão, presente nos pratos dos brasileiros, que tem um nível do inseticida – malationa – 400 vezes maior daquele permitido pela União Europeia.

O OLHAR DA INDIFERENÇA EXCLUI A VIDA

O mercado que seduz ao consumismo desenfreado atropela a vida dos mais pobres sem escrúpulo nem constrangimento algum. Com isso cresce a indiferença com a situação dos mais frágeis e se desenvolve a cultura da invisibilidade e do descartável, que é como podemos melhor descrever a indiferença.

Junto à indiferença, há outro inimigo que tem crescido em nossos dias: o ódio. A indiferença e o ódio, em todas as suas formas, paralisam e impedem que se faça o que é justo até mesmo quando se sabe o que é justo. A indiferença é um vírus que contagia perigosamente a nossa época, que cada vez mais aglomera pessoas em conjuntos habitacionais ou condomínios verticais e horizontais, porém sempre menos atentos e distantes afetivamente do próximo. Por essa razão, a CF 2020 deseja fomentar uma cultura do cuidado, da responsabilidade e da proximidade, estabelecendo uma aliança contra todo tipo de indiferença e ódio.

2ª PARTE  “SENTIU COMPAIXÃO”

VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE (LUCAS 10,33-34)

Compaixão de Jesus, romper com a indiferença:

Se, por um lado, o olhar da indiferença gera tanto mal, o olhar da compaixão pode fecundar o bem no coração humano e conferir verdadeiro sentido à vida. Não se trata apenas de um olhar de dó, mas de um olhar samaritano que reconhece a dignidade da pessoa e procura resgatar a imagem e semelhança no rosto de homens e mulheres desfigurados pelo pecado (Gênesis 1,26).É o olhar divino manifestado em Jesus.

Somos chamados a iluminar nosso olhar com o olhar do Cristo que, do alto do madeiro, viu e perdoou todos os pecados e nos salvou por sua misericórdia (Lucas 23,34). O Espírito Santo, Senhor que dá a vida, é o auxílio que garante a continuidade do olhar de Cristo no nosso olhar e nos impulsiona a ver a dignidade humana e de toda a obra da criação.

PERGUNTAS INTRIGANTES E NECESSÁRIAS

O que acontece com uma pessoa que só pensa em si mesma? O que acontece com uma sociedade em que o egoísmo, o individualismo, o consumismo, a indiferença e o ódio tendem a predominar? Peçamos ao bom Deus que nos ilumine e as respostas surjam nos momentos da oração pessoal ou comunitária.

Os discípulos e amigos do Ressuscitado estão a serviço da vida

A Páscoa nos ensina a, por, com e em Cristo, romper os túmulos da indiferença e do ódio e ressurgir para o zelo, o cuidado e a solidariedade. Com o olhar de Cristo (olhar samaritano), penetramos nas entranhas do sofrimento do próximo. Por isso, sentir a dor do outro é muito mais do que ter dó. Significa comprometer-se com o sofredor, sem medo de aproximar-se e identificar-se com o próprio amor de Deus para conosco (João 13,34). O que Cristo nos ensina é fazermo-nos próximos sem preconceitos, sem classificação, sem esperar nada em troca. Gratuitamente amar como Cristo nos amou (Filipenses 2,5).

Compaixão é ter mais coração nas mãos

Quem ama não julga, não acusa, não divide. Quem ama cuida, acolhe e integra. Quem ama dialoga, suporta e se compadece. Ao contrário, o egoísta e prepotente, com olhos só para si, julga o mundo a partir da sua prepotência, esquecendo-se de que seu olhar está embaçado pelo pecado e o coração entupido pela maldade. Diante da maldade, apesar dos problemas que temos, nossas mãos não podem ser fechadas para socar, mas têm que, abertas, apoiar (Mateus 8,20).

COMPAIXÃO É TER MAIS JUSTIÇA NO CORAÇÃO

Um dos grandes desafios para o nosso tempo é definir o que é justiça. Na concepção da maioria das pessoas, justiça trata-se daquilo que pode ser retribuído com dinheiro, trabalho, até mimos por conta do bom comportamento. Ou, ao contrário, punido devido ao mau comportamento. Uma pergunta para refletir: A retribuição e a punição, em nossa sociedade, são iguais para todos os seres humanos?

É preciso envolver o conceito da justiça com a graça da misericórdia. A misericórdia é a mais perfeita motivação da igualdade entre os seres humanos e, por conseguinte, também, a motivação mais perfeita da justiça, na medida em que ambas tem em vista o mesmo fim: a defesa da vida ou a recuperação da vida. A justiça misericordiosamente entendida se concretiza no perdão. Todas as vezes que Jesus encontra um pecador, o Filho de Deus proclama: “Vai, e de agora em diante não peques mais” (João 8, 1-11).

CONVITE DA CF 2020

A CF 2020, ao tratar da vida como Dom e Compromisso, nos convida a uma conversão pessoal, comunitária, social e conceitual em relação à justiça que nutrimos. A missão do discípulo missionário de Jesus Cristo é revelar ao mundo o rosto da misericórdia. Valorizar a vida e promover a justiça misericordiosa é um ato de fé. Mas que também é um exercício que passa pela organização comunitária e social, que não pode ser confundido com o “deixar que se faça o que quiser com a certeza de que o perdão exista” como uma forma hipócrita da impunidade. Não é isso que se propõe ao falarmos da justiça com misericórdia. E nem que se cederá qualquer coisa que se pede, agindo na ingenuidade assistencialista. É preciso redescobrir o valor e a beleza do conteúdo cristão da justiça. Diante de várias formas da compreensão da justiça, lançamos um olhar sobre as concepções da justiça baseada na retribuição e da justiça baseada na restauração, formas diferentes de agir diante da dor.

QUARESMA 2020:

TEMPO DE CONVERSÃO E DA DESCOBERTA DA TERNURA

O caminho da conversão quaresmal convida à promoção do diálogo entre irmãos que, fraternalmente, também é estabelecido pelo encontro. Tudo isso só se torna possível se abraçarmos a ternura que o Filho de Deus trouxe para a humanidade em sua encarnação. Cristo, verbo de Deus encarnado, nos convida a participar da revolução da ternura.

A ternura é, sem dúvida, o modo privilegiado de traduzir para os nossos tempos o afeto que Jesus sente por nós. A ternura revela o rosto paterno/materno do Deus apaixonado pelo ser humano. Quando a pessoa sente o amor/ternura divino é estimulado a também amar e cuidar.

Somente com a ternura é que os discípulos missionários de Jesus podem reacender a chama da vida. Portanto, não é possível falar de cuidado pastoral sem falar da ternura. Atenção: Não existe receita pronta para a ternura. Existe a surpresa divina que se dá através do coração aberto ao dom do Espírito, que impulsiona o anunciador da Boa Nova à loucura do amor pela Palavra. São Paulo traduz esta realidade dizendo: “Agradou a Deus salvar aqueles que creem por meio da loucura da pregação” (1 Coríntios 1,21). E continua São Paulo refletindo sobre a loucura do amor divino que existe no coração dos que pregam com ternura a Palavra de Deus: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parece loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2,14).

Para as pessoas “carnais” – materialistas, com os olhos voltados só para si mesmas -, a atitude da ternura num mundo marcado pela violência e a indiferença diante do sofrimento alheio é visto como loucura. Mas é justamente esta louca e divina ternura que impulsiona a Igreja a sair, caminhar pelas periferias existenciais, não se importando em sujar os pés com as poeiras do mundo. Mesmo diante de tantos desafios jamais poderá perder a ternura. Em um mundo que despreza, passando adiante sem se importar com o sofrimento do próximo – o profetismo cristão se faz presente pelo cuidado envolvido pela ternura.

Quem viveu com intensidade a ternura foi Santa Dulce dos Pobres, que pulsava a ternura divina em seu coração e se compadecia com a dor do rosto de Deus no rosto humano. Ela não escolhia quem iria ajudar. A ternura faz isso: nos torna abertos a aceitar os outros. Para viver a dimensão da gratuidade da ternura, precisamos de Deus, que é a fonte de todo bem e de toda ternura.

ECOLOGIA INTEGRAL

A mesma ternura necessária na relação dos cristãos com as pessoas deve existir deles também para com a natureza. O compromisso para superar problemas como a fome, o desconforto social e econômico, degradação do ecossistema e cultura do desperdício, requer uma renovada visão ética, que saiba colocar no centro as pessoas, com o objetivo de não deixar ninguém à margem da vida. É somente o olhar da ternura que pode enxergar as pessoas e a natureza.

A ecologia integral, pois, não visa somente preservar o meio ambiente e nem tampouco o bem estar das pessoas isoladas da natureza. A ecologia integral insere o ser humano na natureza e está no mundo social dos humanos, despertando a consciência de que afetar um é também ferir o outro. Por isso a consciência para uma ecologia integral é tanto um chamado como um dever para toda a humanidade, independente da religião, pois todos os seres humanos dependem desta consciência da ecologia integral para continuar a viver na nossa Casa Comum, a terra. Este é o grande desafio da humanidade: ser mais solidários como irmãos e irmãs onde todos, fraternalmente, assumem a responsabilidade compartilhada pela Casa Comum.

É preciso observar a natureza e visualizar a beleza da criação. Quando assim agimos, podemos repetir as palavras de São Francisco, transcritas pelo Papa Francisco na Encíclica “Laudato Si”: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, mãe terra, que nos sustenta e nos governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras” (LS, n1).

 

3ª PARTE  “E CUIDOU DELE”

VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE (LUCAS 10,33-34)

CUIDAR DE JESUS: disposição em servir

O ser humano, que recebe o carinho divino e que é chamado ao cultivo da criação, é também convocado a cuidar com divino carinho da vida em todas as suas formas e expressões (Salmo 8,4s). A pessoa que recebe verdadeiramente o carinho divino sente que somos todos irmãos, independente da etnia, posição social ou nacionalidade. Por isso o agir de todo discípulo missionário tem por objetivo resgatar o sentido do viver no horizonte da fé cristã, proclamando a beleza da vida.

A VIDA CRISTÃ É ESSENCIALMENTE SAMARITANA

Temos que ter consciência que a vida é essencialmente samaritana: traz no seu sentido mais radical o cuidado pelo outro. Agir como bom samaritano supõe um novo aprendizado obtido pela conversão provocada por Jesus e sua Boa Nova. Só em e por Jesus Cristo aprendemos a cuidar e sermos cuidados. É a conversão que nos faz escolher a bacia de Jesus e não a de Pilatos. A bacia diante de Pilatos, ele a usou para lavar as mãos, ou seja, tornar-se indiferente à dor do outro. A bacia diante de Jesus, ele a usou para lavar os pés dos discípulos, sinal de cuidado e compromisso com o serviço. Redescobrindo as águas do batismo nas águas da bacia do lava-pés, todos os discípulos missionários – a Igreja toda – se colocam em saída para servir àqueles que necessitam da sua ação generosa, envolvida pela ternura, sempre amparada na justiça misericordiosa. Não podemos dizer que amamos a Deus se não vemos o outro que sofre. (1 João 4,19-20).

Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Naquele que é a vida, encontramos o caminho do sentido para o nosso viver. O caminho deve ser percorrido em comunhão com a comunidade, pois o próprio Cristo diz que onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, ali ele estará (Mateus 8,20). A verdade é o amor gratuito experimentado neste caminho, amor que transforma a realidade da dor em paz plenificada pela ternura divina geradora da vida plena para todo ser humano.

Não há outro jeito de ser discípulo seguidor de Cristo sem que a pessoa se torne missionária do amor que promove a solidariedade com os sofredores, lembrando que, a ausência do sentido da vida, é fonte de grande sofrimento. Para viver organizadamente este amor repleto de ternura, a CNBB une todas as dioceses brasileiras em um caminho de dedicação e amor ao próximo através das propostas da CF 2020: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (João 10,10).

UM COMPROMISSO PESSOAL

As mudanças que queremos para o mundo só serão reais se começarem em nós, a partir de nós, afetando positivamente o ambiente em que vivemos. Podemos sentir esta ação como algo difícil, às vezes até cansativa. Mas somos chamados sempre a sermos pessoas comparadas a jarras (cântaros) sempre dispostas a darem de beber a água da esperança pela vida através da fé. Às vezes o cântaro se transforma em uma pesada cruz. Mas foi precisamente na cruz que o Senhor Jesus, trespassado, se entregou a nós como fonte de água viva. Nada, nenhuma situação ou desafio pode roubar a nossa esperança. Jamais!

CONCLUSÃO

Sem jamais perder a alegria do Evangelho, os cristãos são convidados a cultivar na oração e na fraternidade baseada no serviço misericordioso um olhar de esperança que irradie a luz da vitória da Ressurreição de Cristo. Com Jesus Ressuscitado a Igreja tem a certeza de que o amor terá a última palavra e vencerá todo tipo de mal.

O Papa Francisco nos dá palavras que aconselham a vida cristã envolvida pela esperança:

– Não podemos nos render à escuridão da desilusão, cansaço ou desesperança. O mundo caminha graças a homens e mulheres que abriram frestas nos muros, que construíram pontes, que sonharam e acreditaram, mesmo quando ao seu redor ouviam palavras desanimadoras ou críticas destrutivas. Onde quer que o cristão esteja, deve construir.

– O cristão deve promover a paz em meio aos homens e mulheres e não ouvir a voz de quem espalha ódio e divisão. O cristão deve amar as pessoas, uma a uma, respeitando o caminho de todos.

– O cristão deve sentir-se responsável pela vida de cada pessoa e por este mundo, a Terra, nossa Casa Comum. Que tenham sempre a coragem da verdade, porém, lembrando sempre que não são superiores a ninguém. Cristãos, cultivem ideais e nunca desanimem: se caiu, levante-se. Se a amargura tocar seu coração, procure na oração ser curado pela ternura de Deus.

Nesta Campanha da Fraternidade 2020 somos convocados a ver, solidarizar e cuidar da vida que sofre. Caminhamos confiantes para um novo céu e uma nova terra. Esta confiança se torna ainda mais consistente quando voltamos nosso olhar para Maria, a Santíssima Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Esperança. A ela confiamos tudo o que somos e toda a CF 2020.

Fonte: https://portalkairos.org/estudo-e-resumo-do-texto-base-da-cf-2020/#ixzz6DMe4vKET

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